Heresias ao Longo da História

As heresias, divergências doutrinárias em relação a um dogma estabelecido, acompanham a história das religiões desde seus primórdios. No cristianismo, em particular, as heresias surgiram desde os tempos apostólicos e moldaram a forma como a fé foi compreendida e praticada ao longo dos séculos.

 

Heresias do Período Apostólico

Logo após a morte de Jesus, diversas interpretações sobre sua pessoa e obra começaram a surgir, dando origem às primeiras heresias. Uma das mais conhecidas é o gnosticismo, uma corrente filosófico-religiosa que mesclava elementos do cristianismo com outras crenças antigas. Os gnósticos acreditavam que a matéria era má e que a salvação vinha do conhecimento secreto (gnosis) transmitido por Jesus apenas a um grupo seleto de iniciados.

 

Heresias dos Primeiros Séculos: As Grandes Disputas

Nos primeiros séculos do cristianismo, as heresias se multiplicaram e se tornaram um desafio para a unidade da Igreja. Duas das mais importantes foram o gnosticismoarianismo e o nestorianismo.

GNOSTICISMO

  • Descrição: Ensina que a facilidade vem por meio de um conhecimento secreto (gnose) reservado a poucos. Considere o mundo material como intrinsecamente mau, criado por um deus inferior (o demiurgo), e não pelo Deus supremo.
  • Condenação: Combatido por Irineu de Lyon, Tertuliano e outros Pais da Igreja. Afirmaram que Deus é o Criador de tudo e que o conhecimento de Deus está disponível a todos por meio de Cristo.

Essa imagem contém elementos simbólicos relacionados a visões esotéricas e espirituais que estão associadas ao gnosticismo. No gnosticismo, há frequentemente o uso de representações simbólicas para descrever:

  1. O Pleroma (Plenitude Divina): A luz no centro superior pode simbolizar o Pleroma, que é o estado de plenitude onde residem os seres divinos ou eons. Esse conceito representa a morada da perfeição espiritual e do verdadeiro conhecimento.

  2. O Dualismo do Mundo: Os lados opostos (como ruínas e escuridão versus luz e ordem) podem simbolizar o dualismo gnóstico — a luta entre o mundo material, considerado corrupto ou inferior, e o espiritual, que é puro e divino.

  3. O Caminho da Ascensão Espiritual: A árvore ou figura central parece indicar um caminho de conexão entre o mundo material e o divino. Isso pode ser interpretado como uma jornada do gnóstico em busca da iluminação ou da liberação do aprisionamento no mundo material.

  4. A Luz Interior ou Conhecimento (Gnose): A luz que emana do topo, muitas vezes representada como um “olho” ou fonte de sabedoria, simboliza o conhecimento secreto que os gnósticos acreditam ser necessário para alcançar a salvação.

  5. A Criação e o Demiurgo: Em algumas interpretações gnósticas, as figuras inferiores ou os elementos sombrios podem representar o Demiurgo , o criador do mundo material, que é visto como uma superfície menor e imperfeita.

ARIANISMO

  • Fundador: Ário (século IV).
  • Descrição: Negava a divindade plena de Cristo, afirmando que Ele foi criado por Deus Pai e, portanto, não era coeterno nem consubstancial com o Pai.
  • Condenação: Condenado no Concílio de Niceia (325) e reafirmado em Constantinopla (381). A fórmula “consubstancial ao Pai” foi incluída no Credo Niceno.

NESTORIANISMO

  • Fundador: Nestório (século V).
  • Descrição: Afirmava que Cristo tinha duas pessoas distintas (uma divina e outra humana), porém rejeitava o título de “Mãe de Deus” (Theotokos) para Maria, preferindo “Mãe de Cristo” (Christotokos). Nisso ele estava certo!
  • Condenação: Condenado no Concílio de Éfeso (431), que afirmou que Cristo é uma única pessoa com duas naturezas (divina e humana).

VEJA OS DEMAIS AQUI

  • Fundador: Marcião de Sinope (século II).
  • Descrição: Rejeita o Antigo Testamento e ensina que o Deus do Antigo Testamento é diferente do Deus revelado por Jesus no Novo Testamento. Criou um “cânon” bíblico próprio, excluindo vários livros.
  • Condenação: Rechaçada pela Igreja, que reafirmou a unidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Combatido por Irineu e Tertuliano.
  • Fundador: Montano (século II).
  • Descrição: Enfatizava revelações diretas do Espírito Santo, novos profetas e um rigor moral extremo. Pregava o fim iminente do mundo.
  • Condenação: A Igreja rejeitou suas práticas e ensinamentos por desconsiderar a autoridade e a tradição apostólica.
  • Descrição: Uma forma judaico-cristã que negou a divindade de Cristo, considerando-o apenas um profeta humano. Insistia na observância da Lei Mosaica para os Cristãos.
  • Condenação: Combatido por apologistas como Irineu, que reafirmaram a divindade de Cristo e a abolição da Lei como meio de salvação.
  • Fundador: Apolinário de Laodicéia (século IV).
  • Descrição: Defendia que Jesus tinha um corpo humano, mas não uma alma humana completa; Sua mente e espírito foram substituídos pela divindade.
  • Condenação: Rejeitado no Concílio de Constantinopla (381), que reafirmou que Cristo era plenamente humano e plenamente divino.
  • Descrição: Ensinava que Cristo tinha apenas uma natureza, predominantemente divina, após a união das naturezas divina e humana.
  • Condenação: Rejeitado no Concílio de Calcedônia (451), que declarou que Cristo possui duas naturezas distintas e completas, divina e humana, em uma única pessoa.
  • Fundador: Donato de Casa Nigra (século IV).
  • Descrição: Sustentava que a validade dos sacramentos dependia da pureza moral do ministro. Consideravam apóstatas (aqueles que tiveram negado a fé durante perseguições) incapazes de administrar sacramentos.
  • Condenação: Combatido por Agostinho de Hipona, que afirmou que os sacramentos são válidos por causa da graça de Deus, não pela moralidade do ministro.
  • Fundador: Pelágio (século IV-V).
  • Descrição: Negava o pecado original e afirmava que os seres humanos poderiam alcançar a salvação sem a graça de Deus, apenas por seu esforço moral.
  • Condenação: Rejeitado no Concílio de Éfeso (431). Agostinho de Hipona foi um dos principais opositores, defendendo que a salvação é pela graça de Deus.